Muita atenção: meditação

Com as preocupações do dia silenciadas, as respostas ao estresse diminuem e a imunidade aumenta

SUZANA HERCULANO-HOUZEL*

ESVAZIE SUA MENTE.

À primeira vista, a orientação mais básica para a meditação soa impraticável para um cérebro que passa o dia inteiro fazendo seu burburinho interno fluir naturalmente de um pensamento para o outro, direcionado aqui e ali por estímulos externos incessantes. Como esvaziar a mente pode ser possível, ou mesmo bom?
Ao contrário do relaxamento, a meditação é um estado de intensa atenção, focada em um único processo: uma imagem, um mantra, sua própria respiração, ou sentimentos de compaixão.
É essa atenção focada que permite que todas as distrações, externas e internas, sejam silenciadas e deixem de afetar o fluxo natural dos pensamentos. Nesse estado, o cérebro suprime ativamente ações motoras e mentais -o que requer um baita esforço dos principiantes.
Emoções perdem a vez (exceto se a compaixão for o seu foco) e, eventualmente, até os limites do corpo parecem se dissolver: no estado meditativo, somente um pensamento existe.
Com a prática, o enorme esforço cerebral para manter a atenção hiperfocada vai deixando de ser necessário.
Para os experts, como monges tibetanos com dezenas de milhares de horas de prática, esse estado de atenção focada vem naturalmente. Nesse estado, com as preocupações do dia silenciadas, as respostas ao estresse diminuem, a imunidade aumenta: a calmaria na mente se estende ao corpo.
Para quem anda atribulado e assoberbado, a meditação pode ser aquela pausa bem-vinda para "zerar" o cérebro e conseguir, ainda que por instantes, suprimir os pensamentos angustiantes.
O curioso, e ainda melhor, é que, com a prática, o controle e a paz alcançados na meditação transbordam para outros momentos da vida.
Com a prática, mesmo fora do estado meditativo a capacidade de atenção focada aumenta nitidamente; melhora a capacidade de suprimir pensamentos negativos e emoções associadas; e o corpo ganha mais paz, por meio da maior ativação do sistema parassimpático, o que torna a resposta ao estresse mais controlada e saudável.
E não, você não precisa se tornar um monge tibetano para gozar dos benefícios da meditação. Um estudo mostrou que os efeitos sobre corpo e mente já são notados com -pasme- cinco dias de prática. Quem diria: o caminho para o relaxamento passa pela atenção extrema.


* Neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com.

Folha de São Paulo: Caderno Equilíbrio

Agradecimento: Mauro Strengerowski, praticante de Yoga


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